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Agora!... quando a vida me sorria:
Agora!... que meu estro se accendêra;
Que eu me enlaçava a um mundo d’esperanças,
Como se enlaça pelo choupo a hera,

Deixar tudo, e partir, sósinho e mudo;
Varrer-me o nome escuro esquecimento:
Não ter um eccho de louvor, que affague
Do desgraçado o humilde monumento!

Oh tu, sêde de um nome glorioso,
Que tão fagueiros sonhos me tecias,
Fugiste, e só me resta a pobre herança
De ver a luz do sol mais alguns dias.

Vestem-se os campos do verdor primeiro:
Já das aves canções no bosque ecchoam:
Não para mim, que só escuto attento
Funereos dobres que no templo soam!

Eu que existo, e que penso, e falo, e vivo,
Irei tão cedo repousar na terra?!
Oh, meu Deus, oh meu Deus! um anno ao menos;
Um louro só... e meu sepulchro cerra!