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E tu, átomo obscuro,
Que varre á tarde a aragem,
Sóltas do seio impuro
Maldicção insensata,
Porque o teu Deus te evoca á eternidade?
Que é o viver? O umbral, a que um momento
O espirito, surgindo
Das solidões do nada
Á voz do Creador, se encosta, e attento
Contempla a luz e o céu; d’onde desata
Seu vôo á immensidade.
Geme acaso o passarinho
De saudade,
Quando as azas expande, e deixa o ninho
A vez primeira, a mergulhar nos ares?
Volve olhos lachrymosos
Aos mares tormentosos
O navegante, quando aproa ás plagas
Da patria suspirada?
Porque morres?! Pergunta á Providencia
Porque te fez nascer.
Qual era o teu direito a ver o mundo;
Teu jus á existencia?
Olha no outono o ulmeiro
Que o vendaval agita,