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Que eu te invoco, pedindo-te feneçam
Meus dias aborridos:
Quebra duras prisões, que a natureza
Lançou a esta alma ardente;
Que ella possa voar, por entre os orbes,
Aos pés do Omnipotente.
Sobre a nau, que me estreita, a prenhe nuvem
Desça, e estourando a esmague,
E a grossa proa, dos tufões ludibrio,
Solta, sem rumo vague!

Porém, não!... Dormir deixa os que me cercam
O somno do existir;
Deixa-os, vãos sonhadores de esperanças
Nas trévas do porvir.
Doce mãe do repouso, extremo abrigo
De um coração oppresso,
Que ao ligeiro prazer, á dor cançada
Negas no seio accésso,
Não despertes, oh não! os que abominam
Teu amoroso aspeito;
Febricitantes, que se abraçam, loucos,
Com seu dorído leito!
Tu, que ao misero rís com rir tão meigo,
Calumniada morte;