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Primeira carta.

Apologetica.


Cariſſimo Irmaõ, he a defenſa taõ natural em todo o género de individuo, que ainda o mais vil inſecto, quando ſe vê offendido, procura, pelo modo que lhe he poſſivel, deſaggravar-ſe. Trilha o arrogante leaõ a humilde formiga , eſta logo abrindo a garra , com ella imagina deſpicar-ſe: Aſſim eu agora em defenſa do meu ſexo, quando me vejo inſultada, procuro a deſenfa com as meſmas armas, com que me vejo offendida.

Se as offenſas, que V.C. incita nos defeitos, que quer moſtrar na lente do ſeu Eſpelho Critico, diſſeſſem ſó reſpeito á minha peſſoa , pouco, ou nenhum caſo faria eu delias ; pois ja de antemão ſ prevenida a fazer menos apreço dos impropérios dos homens ; em cujos termos ſempre me lembro do que refere Policrato , que injuriando hum homem a outro, diſſe o injuriado: Dize o que quizeres , que eu tenho mandado aos ouvidos, que ouçaõ á lingua ,que cale; e ao animo, que eſteja quieto: Mas como ſaõ em dezabono de todo o meu ſexo , indiſpenſavelmente me vejo precizada a defendê lo.

He certo, que os homens nem ſempre fallaõ apoyados na razaõ; pois ententando dizerem mais

a ii
haja,