Página:Primeira Carta Apologetica em Favor e Defensa das Mulheres (1761).pdf/6

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Amor. E que ſerá iſto Cariſſimo Irmaõ? Será acaſo que com a ficção de ſer deſte dictame, occultar ſua péſſima inclinaçaõ? Será, que ha homem taõ malevolo, que diz, que huma mulher naõ he bõa, ſó porque ella naõ quiz ſer má: e aſſim deſaffoga ſua execranda paixaõ em atrozes vinganças, abominaveis improperios, e em injuriosos teſtemunhos. Naõ digo iſto ſem muita reflexaõ; e ſe quer ver a confirmaçaõ deſta verdade, lembre-ſe do laſtimoſo ſuceſſo da formoſa, e diſcreta Holandeza Madama Duglás, contra a qual irritado Guilherme Leout, por ella naõ querer condeſcender com ſua pravidade, chegou eſte homem a acuſá-la do nefando crime de leza Magestade, e provando-lhe o delicto com teſtimunhas falſas, e ſubordinadas a fez condear á morte. Deſte genero ſaõ as mais das verdades, que contra as miſeraveis ſe dizem.

Dirá V. C. que o meu argumento ſó convenceria , ſe acaſo hum, ou outro homem foſſe o que diſſeſſe mal das mulheres , mas que aſſeverando o a mayor , e a melhor parte delles, he certo, que nem todos podem ſer máos ; nem as mulheres bôas. Ora permitta-me ( que he o que baila para V. C.) que eu lhe reſponda com a hiſtoria , que traz Carduzio nos ſeus Diálogos acerca da pintura, foy o caſo: Hiaõ de jornada hum homem , e hum leaõ , e diſputando ambos ſe os homens , ou os leoens eraõ mais

valorozos , cada qual dava vantajem a ſua eſpecie : chegando por fim a huma fonte , que eſtava guarnecida de jaipes , e de mármores lavrados, advirtio o homem , que entre eſtes ſe divizava a figura de hum homem do meſmo mármore deſpe-

daçan-