Página:Primeiras trovas burlescas de Getulino (1904).djvu/204

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A quem trahiste, heroe? na vil poeira
Que juramento te prendia a fé ?
Escravo por escravo— essa bandeira
Foi de um soldado—lá ficou de pé !...
Viu o sol entre as brumas do futuro
—Elle que por si só nada podia;
Quiz vingar-se tambem,—no sonho escuro
Quiz ter tambem seu dia !

O pulso roixo da fatal cadeia
Brandio uma arma, pelejou tambem ;
Viram-no erguido na refrega feya,
—Sombrio vulto que o valor sustem!
Respeitai-o—que amou a heroicidade !
Quiz erguer-se tambem do raso chão!
Foi delirio talvez—a eternidade
Teve no coração!

Oh que o Céo era lindo, e o sol se erguia,
Como um incendio nas brasileas terras:
Da cimeira da serra a voz rugía,
E o som dos ventos nas remotas serras !
Adormeceu...—à noite em funda calma
Ouviu ao longe os echos da floresta;
Bateu-lhe o coração—triste sua alma
Sorriu-se—era uma festa !

Homem—sentiu na carne desnudada
O açoite do algoz nodoar-lhe a honra,
E o sangue sobre a face envergonhada
Mudo escreveu o grito da deshonra!
Era escrevo !—deixai-o que combata;
Livre nunca elle foi, quer sel-o agora,
Como o peixe no mar, a ave na matta,
Como no Céo a aurora!

Oh deixai-o morrer I—d'este martyrio
Não alceis a calumnia ao gráu da historia!