feitos de lodo; os corpos transparentes feitos de pulverizações de luz; os corpos luminosos feitos de argilas ideais: há almas tão puras como músicas de constelações, tão terríveis como as fulgurações do desespero, tão voluptuosas como os beijos vermelhos do sol. Ele semeou ali, com mão augusta, as energias, o amor, as enervações, os ciúmes, as angústias, as melancolias, a dúvida, a paternidade, a cobardia — eu sei?... Há toda a sorte de vestidos, sedas, farrapos, lutos, púrpuras, sudários; umas cabeças têm coroas flamejantes, outras cabeças têm coroas de violetas: aquelas criações têm nos lábios o lirismo, a ode, a imprecação, la sátira, a chocarrice: há arquitecturas, tormentas aflitas, arvoredos sagrados, luares e aparições. Assim caminha enorme aquela obra, tentando a grande aventura da imortalidade! Para dar a vida e o sopro ideal a esta criação imensa, é necessário que venha a arquitectura, a decoração, todos os coloridos, os vestuários, o lirismo, e, sobretudo, a melodia e a orquestra.
A música deve ser a voz de tudo aquilo que ali está silencioso, sem ter a faculdade de se exprimir, e nós termos a possibilidade de o compreender, — a voz das estrelas, das pedras, das nuvens, das flores, de tudo o que, desde as ervas molhadas até às vias-lácteas, fala muito indefinidamente e com vibrações muito sobrenaturais, para que o nosso êxtase as possa escutar. Quando Julieta suspira ao seu balcão, desejando que O corpo do seu Romeu, depois de morto, seja dividido em pequenas estrelinhas, para que todas as mulheres se namorem da noite, em roda dela, as