Queres da vil, da subita mudança,
Que ver expósta a pérfida Pastora
Ao ludibrio geral? Huma traidora,
Huma féra, huma ingrata, inda que bella,
Não merece a paixão, que tens por ella.
Pondera, que não foste injuriado
De seu duro desprezo inesperado,
Que o feminil capricho extravagante
Não te deslustra o mérito brilhante.
Nenhum, nenhum Pastor n'Aldêa ignora,
Que essa, que te deixou, foi atégora
Carinhosa comtigo, e fez patente
Sua correspondencia a toda a Gente:
Demonstrações em público te dava
De amorosa paixão, mas não te amava:
Baixo costume, natural fraqueza
He que a fez parecer de amor acceza;
Aquella alma não arde, não se inflama,
A todos corresponde, a ninguem ama.
Bem se vio com Bersálio, e com Laurénio
Seu inconstante, seu voluvel genio:
Té no mais desprezivel dos Pastores
He capaz de empregar seus vis amores,
Nunca soube escolher, tudo lhe agrada,
E inda que astutamente infatuada
Faça crer aos Amantes o contrario,
He já sabido seu caracter vario.
Isto em teu coração gravado fique,
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