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fosse um rato ou um cão, é certo que minha avó não morreria, mas o facto era o mesmo; Humanitas precisa comer. Se em vez de um rato ou de um cão, fosse um poeta, Byron ou Gonçalves Dias, differia o caso no sentido de dar materia a muitos necrologios; mas o fundo subsistia. O universo ainda não parou por lhe faltarem alguns poemas mortos em flor na cabeça de um varão illustre ou obscuro; mas Humanitas (e isto importa, antes de tudo) Humanitas precisa comer.

Rubião escutava, com a alma nos olhos, sinceramente desejoso de entender; mas não dava pela necessidade a que o amigo attribuia a morte da avó. Seguramente o dono da sege, por muito tarde que chegasse a casa, não morria de fome, ao passo que a boa senhora morreu de verdade, e para sempre. Explicou-lhe, como pode, essas duvidas, e acabou perguntando-lhe:

— E que Humanitas é esse?

— Humanitas é o principio. Mas não, não digo nada, tu não és capaz de entender isto, meu caro Rubião; fallemos de outra cousa.

— Diga sempre.

Quincas Borba, que não deixára de andar, parou alguns instantes.