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QUINCAS BORBA

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QUINCAS BORBA

Convém dizer, para explicar a indiferença do homem, que elle tivera, no espaço de uma hora commoções oppostas. Fora primeiro á casa de um ministro de Estado, tratar do requerimento de um irmão. O ministro, que acabava de jantar, fumava calado e pacifico. O director expoz atrapalhadamente o negocio, tornando atraz, saltando adeante, ligando e desligando as cousas. Mal sentado, para não perder a linha do respeito, trazia na boca um sorriso constante e venerador; e curvava-se, pedia desculpas. O ministro fez algumas perguntas; elle, animado, deu respostas longas, extremamente longas, e acabou entregando um memorial. Depois ergueu-se, agradeceu, apertou a mão ao ministro, este acompanhou-o até á varanda. Ahi fez o director duas cortezias,—uma em cheio, antes de descer a escada, — outra em vão, já embaixo, no jardim; em vez do ministro, viu só a porta de vidro fosco, e na varanda, pendente do tecto, o lampião de gaz. Enterrou o chapéu, e sahiu. Saiu humilhado, vexado de si mesmo. Não era o negocio que o affligia, mas os comprimentos que fez, as desculpas que pediu, as attitudes subalternas, um rosário de actos sem proveito. Foi assim que chegou á casa do Palha.