Página:Quincas Borba.pdf/40

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rança. Espreitára uma deìxa, e sae-lhe do testamento a massa toda dos bens. Não podia acabar de crer; foi preciso que lhe apertassem muito as mãos, com força, — a força dos parabens, — para não suppor que era mentira.

— Sim, senhor, lavre um tento, dizia-lhe o dono de pharmacía que ministrára os remedios ao Quincas Borba.

Herdeìro já era muito; mas universal... Esta palavra inchava as bochechas á herança. Herdeiro de tudo, nem uma colherinha menos. E quanto seria tudo? ia elle pensando. Casas, apolices, acções, escravos, roupa, louça, alguns quadros, que elle teria na côrte, porque era homem de muito gosto, fallava de cousas de arte com grande saber. E livros? devia ter muitos livros, citava muitos delles, Mas emquanto andaria tudo? Cem contos? Talvez duzentos. Era possivel; trezentos mesmo não havia que admirar. Trezentos contos! trezentos! E o Rubião tinha impetos de dansar na rua. Depois aquietava-se; duzentos que fossem, ou cem, era um sonho que Deus Nosso Senhor lhe dava, mas um sonho comprido, para não acabar mais.

Aqui a ideìa do cachorro pôde tomar pé no torvelinho de ideias que iam pela cabeça do nosso