Com tudo Deus existe! e nós, seus filhos,
— Ingratos — se n'uma hora o olvidámos,
Dentro temos a voz de eterno brado!
Quem pode renegar seu pae? Nós somos
Como esse Adão occulto no arvoredo
Que não quer responder a quem o chama:
Porém se a voz do pae clamou tres vezes,
Não pode resistir — «Eis-me presente.» —
Dissidentes no mais, Deus nos reune:
No impio, ou crente, em todos Deus existe
E todos chama a si, e a todos ama.
Nós somos como rios que descendem
De varia serra, e em vario leito correm:
Mas, que importa? essas serpes tortuosas,
Após rodeios mil, após mil voltas,
Vão todas dar no mar; some-as o Oceano.
Que importa a crença varia e o vario affecto?
Este laço de amor a todos une:
— Existe um Deus que é Pae; somos seus filhos.
Coimbra, Maio, 1861.