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Recordações d'uma colonial

tento, ― o meu e o de minha santa mãe.

Devo aqui contar um pequeno facto que, simples na aparencia, devia mais tarde ter influencia decisiva na minha vida.

la eu nos cinco anos, quando uma tarde, dormitava, sonolenta, á sombra de uma grande papaia, digerindo o saboroso fruto d'aquela arvore, de que me havia atafulhado com a gulodice peculiar aos da minha raça.

Insólito ruido disperta-me bruscamente e na meia modorra que precede o acordar verifiquei que o estranho som se aproximava do sitio onde recostara as minhas preciosas carninhas.

Dir-se-hia o matraqucar das antenas de um inséto gigantesco, n'uma insistencia isócrona, que me coava ao espirito o senso do compasso, que tão relevantes serviços me havia de prestar ao depois.

Plenamente disperta já, transportei-me ao local onde me parecia que devia residir a causa do estrepito e eis o que foi revelado aos meus olhos, divertidos: dois pretitos da minha edade, sentavam-se, de pernas crusadas, no chão, onde as folhas caidas formavam como que uma alfombra