que atravesse indelével o tempo, e nos doure e aqueça os nevoeiros da velhice.
Lívia proferiu estas últimas palavras com a voz trêmula, e uma lágrima lho rolou pela face pálida.
— Por que nos separaremos agora que estamos à porta do céu? perguntou Félix. Não me cabe o direito de exigir uma felicidade que repeli tantas vezes; mas, se pudesse entrar na minha alma veria que os meus erros, por maiores que sejam, e são grandes, anima-os sempre um sentimento de amor, e que enfim eu cedo sempre ao grito de minha consciência. A mais bela ação seria perdoar-me esquecendo, e o único modo de esquecer seria voltarmos ao tempo de nossas esperanças.
— Perdoei tudo, e tudo esqueci; apagou-se o passado e nenhum ressentimento me ficou. O que se não apaga é o futuro.
Félix torcia as mãos. Era patente o seu desespero. A viúva mal podia encará-lo. Seguiu-se um longo silêncio, interrompido pela chegada de Luís. O menino pôs termo à entrevista. Félix olhou ainda algum tempo para a moça; mas leu-lhe na fisionomia que