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Página:Revista Kósmos - ano 1907 - edição 10.pdf/29

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KOSMOS
POR DARWIN
(CONTINUADO DO N. 8 D'ESTE ANNO)
CAPITULO VIII
Historia evolutiva dos Edriophthalmos


MENOS variado do que o dos crustaceos Podophalmos, é o modo de desenvolvimento dos Isopodes que Leach reunio na secção Edriophthalma, ou dos Crustaceos de olhos sesseis (fig. 36).

FIG. 36 — Embryão de Ligia no ovo.

Os do genero Ligia, podem servir como exemplo do desenvolvimento dos Isopodes. N'estes, como em Mysis, a porção caudal do embryão é curva, não para dentro, mas para cima; tambem como em Mysis, antes de tudo, é formada uma membrana larvar, dentro da qual é o crustaceo desenvolvido. Em Mysis, a primeira larva póde ser comparada á um Nauplius; em Ligia ella apparece como uma pupa, inteiramente destituida de appendices, porem prolongada em uma longa cauda simples (fig. 37). A membrana do ovo é retida mais longamente do que em Mysis; ella apenas se rompe quando os membros da joven Ligia estão já parcialmente desenvolvidos no seu numero total.

A superficie dorsal do crustaceo, está unida á membrana larvar, um pouco por traz da cabeça. N'este ponto, quando a união se desfaz, um pouco antes da muda da pelle, ha um appendice foliaceo que, existe sómente por pouco tempo e desapparece antes que a joven Lygia abandone o sacco ovigero materno.

FIG. 37 — Lavra puriforme da mesma, augmentada 15 diametros D — Vetelus, L — Figado, R — resto da membrana do ovo; vê-se no lado ventral, de diante para traz as outras nas anteriores e posteriores, mandibulos, as maxillas anteriores e posteriores, patas maxillas. 0 patas thoracicas, ultimos anneis do corpo mediano desprovidos de appendices; 5 patas do corpo posterior, patas caudaes.

Quando esta começa a cuidar de si, assemelha-se ao individuo adulto em quasi todas as partes, exeptuada uma importante differença; ella possue somente seis, em vez sete patas ambulatorias; e o ultimo segmento do corpo mediano está, apenas, ligeiramente desenvolvido e, destituido de appendices. É preciso mencionar, rigorosamente, que as peculiaridades sexuaes ainda não foram desenvolvidas e que, nos manchos, as dilatações em forma de mão, das patas ambulatorias anteriores e os appendices copuladores, são ainda deficientes.

Ao problema da extensão em que o desenvolvimento de Ligia é repetido nos outros Isopodes, apenas posso dar uma resposta insufficiente. A curvatura do embryão para cima, em vez de para baixo, que eu encontrei, assim como Ratke, em Idothea e egualmente em Cassidina, Philoscia, Tanais e nos Bopyrideos — na verdade, não a encontrei em nenhum dos Isopodes examinados para esse fim. Em Cassidina tambem o primeiro tegumento larvar, sem appendices, é facilmente aprehendido; elle é destituido da longa cauda mas, é fortemente curvo no ovo, como em Ligia e, por conseguinte, não póde ser tomado por uma « membrana ovular interna ». Tal, comtudo; pôde succeder em Philoscia, em que a pelle larvar é estreitamente applicada á membrana do ovo (fig. 38) e só pode ser explicada comotegumento larvar por uma referencia á Ligia e Cassidina. O appendice foliaceo do dorso é de ha muito conhecido no joven do commum Asellus.[1]

FIG. 38 — Embryão de uma Philoxia, no ovo. Augm. 25 diametro.

O facto de que o ultimo par de patas thorcicas falta aos jovens dos Porcellionideos (Miln-Edw.) e Cymothoideos (Miln-Edw.), já foi notado por Milne Edwards. Isto tambem se applica aos Idothea, aos viviparos Sphærosoma e Cassidina, aos Bopyrideos (Bopyrus, Entoniscus, Cryptoniscus, n. g.) e aos cheliferos Tanaides e por isso, provavelmente á grande maioria dos Isopodes. Todos os outros membros são, na regra, bem desenvolvidos nos jovens Isopodes. Só em Tanais, faltam todas


  1. Leydig comparou este appendice foliaceo dos Asellos, com as "glandulas-verdes" ou "glandulas da casca" dos outros crustaceos, suppondo que a glandula-verde não tinha ducto efferente e, partindo do facto de que os dous orgãos cecorrem "no mesmo lugar." Uma tal interpretação é realmente infeliz. Em primeiro logar podemos facilmente garantir com Leucifer, como foi tambem o caso verificado por Claus, que a "glandula-verde" se abre realmente no extremo do processo descripto por Milne-Edwards como um "tuberculo auditivo" e por Spence Bate como um "denticulo olfactorio." E, em segundo logar a posição é mais ou menos tão differente quanto ella possa bem ser. Em um caso, uma glandula par abrindo-se á base das antennas posteriores e, por isso, na face inferior do segmento; em outro, uma estructura impar, elevando-se na linha mediana dorsal por tras do setima segmento, (por traz da linha limitrophe do primeiro segmento thoracico, Leydig.)