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baiso de fina esteira da India, que o tapiza; a mobilia é de páo-setim; o artista que a lavrou, talvez o nosso habilissimo Neto, em vez de castigar a madeira com enfeites e lavores, acertou em dar a seu trabalho um caracter de simplicidade feliz, que deixa ostentar toda sua belleza essa preciosa tartaruga vegetal, que povôa as terras do Amazonas; no meio daquelles moveis amarellados, destaca-se orgulhosamente um piano de jacarandá com sua côr escura entremeiada de veias brilhantes. Ornão os aparadores ricos vasos de Sevres e Etruscos, que mostrão flores com perfeição trabalhadas.

Tres quadros estão suspensos ás paredes da sala: um representa um homem de meia idade, de rosto agradavel, e que parece sorrir-se com o coração nos labios; o outro é o retrato de uma senhora, de trinta annos talvez, vestida de preto, e com um semblante melancolico e doce, d’onde como que transpira a bondade e a virtude. O terceiro quadro, que é por certo o mais interessante, offerece á vista um berço gracioso no meio de arbustos floridos: o berço parece mover-se ao sopro das auras, e d’entre finas roupinhas brancas como o leite, surge um rosto de criança tão vido, tão engraçado, tão bonito, que faz vontade de ir dar-lhe mil beijos; e nesse rosto de cherubim abrem-se uns olhos pretos tão brilhantes, que, se por ventura são de menina, adivinha-se que aquella que nas fachas é um anjinho, quando tiver quinze annos passará a ser um terrivel demoninho, que com os olhos que tem, fará no coração de muita gente travessuras de consequencias un pouco melindrosas.

Pois nessa mesma sala, que acaba de ser ligeiramente descripta, estavão conversando, ou antes disputando com ardor, em um dos ultimos dias de julho do corrente anno de 1849, tres respeitaveis