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Severina esperava sempre, sem saber porque, sem o confessar a si propria, alguma cousa, que não chegava nunea.

Seria um amor lendario, personifieado, eomo no Rêve, em um principe deseendente de eardeaes?

Mas se ella nem sequer suspeitava a existencia das paixões romantieas, que inspiram os grandes artistas.

Seria a riqueza; seria a satisfação da vaidade, o iman que exeree a sua imperiosa attraeção sobre todas as mulheres ?

Mas a singela filha de um peseador não podia conheeer o valor do oiro, applieado ao voluptuoso epicurismo da vaidade.

As vezes, ao eair da noite, Severina gostava de divagar na praia, acompanhada dos sobrinhos.

Emquanto as ereanças rebolavam na areia, rindo, saltando, eorrendo ao desafio, ella quedava-se immovel e pensativa, perfilando o seu vulto esguio na elara luz argentea do luar, que se alastrava na praia.

O seu obscuro instineto de artista aeordava vagamente em faee da noite estrellada e do largo mar ondulante. O olhar de Severina percorria a linha alvejante das easas, desdobrando-se, eomo um collar de perolas, sobre o erystal das ondas; detinha-se no Revelim, o eolosso de granito, resaltando eom o seu eontorno anguloso do azul diaphano; em seguida, perdia-se na immensidade do oceano, esfumado ao longe em um penumbroso fundo de aguarella e absorvia-se na visão do infinito, sentindo eonfusamente, sem ter eonseiencia da impressão que a agitava, da admiração que a possuia, o indefinido terror do ineognoseivel.

Voltava-se depois para o Pontal, curvado para