céo azul, doirada pela tremula scintillação de uma estrella.
Esporeado pelas ondas, o negro esqueleto do vapor cambaleava, estorcendo-se em deslocações fumnambulescas.
O Silvestre nadava sempre, tentando approximar-se da praia.
N'essa occasião, sentiu-se empolgado pela mão crispada de alguem que pesava sobre os seus hombros, como uma massa inerte.
Reunindo as forças que começavam a atraiçoal-o, levantou a cabeça, aspirou o ar que lhe faltava, e sem tentar fugir ao mortal abraço d'esse corpo de afogado, que se lle collára á pelle, continuou a nadar. Mas a vista obscurecia-sc-lhe, os braços e as pernas, inteiriçados, perdiam a agilidade e não deslocavam a agua, que o arrastava lentamente para o tragico sorvedouro.
De repente, soou-lhe aos ouvidos, como um longinquo zumbido, o murmurio de vozcs, fechou os olhos e mergulhou nas trevas, que o cobriram, apagando-lhe a consciencia da vida.
Chegára a primavera, lavando os céos brumosos e mosqueando as charnecas e o pinhal com viçosos ramilhetes de rosmaninho, malmequeres e giésta.
A renovação começava a agitar surdamente os flancos da terra, que se abriam em sulcos fecundos ao contacto da charrua.
O mar tinha a doçura enternecida do convalescente que acaba de debater-sc nos paroxismos de uma agonia tumultuosa.