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SONETOS
ESPIRITUALISMO
I
Como um vento de morte e de ruina,
A Duvida soprou sobre o Universo.
Fez-se noite de subito, immerso
O mundo em densa e algida neblina.
Nem astro já reluz, nem ave trina,
Nem flôr surri no seu aéreo berço.
Um veneno sutil, vago, disperso,
Empeçonhou a criação divina.
E, no meio da noite monstruosa,
Do silencio glacial, que paira e estende
O seu sudario, d'onde a morte pende,
Só uma flôr humilde, misteriosa,
Como um vago protesto da existencia,
Desabroxa no fundo da consciencia.