Página:Sonhos d'ouro (Volume I).djvu/151

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capaz de disputar ao moço a palma da garrulice banal e fofa, que imita as farfalhas da seda, ou os floreios do leque. Quando se ouve discorrer uma dessas nugas encasacadas, parece com efeito que não é um homem que fala, mas um alfinete, um grampo, um colchete, qualquer dos objetos indispensáveis ao vestuário feminino, que de repente adquirisse o dom da palavra.

O Bastos ficava mudo e pasmo diante da volubilidade do Guimarães; ele não compreendia que um homem tivesse essa propriedade de fazer-se realejo, e repetir durante horas e horas o que dissera na véspera ou ouvira dos outros. Quanto ao Nogueira, compreendia; mas, se alguma vez lembrou-se de competir com o Guimarães, arrependeu-se e corou de si mesmo, porque reconheceu o ridículo. Sua palavra era uma águia, pensava ele: a águia da inteligência, habituada a plainar entre as nuvens. Como podia fazer dessa ave corpulenta uma abelha que borboleteasse entre as florinhas de um jardim?