Página:Sonhos d'ouro (Volume I).djvu/34

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tua majestade, com a diferença que os maus te bajulam e se arrastam a teus pés para satisfação de ignóbeis instintos; enquanto que os homens honestos te respeitam como um grande poder, te servem para se robustecerem com tua força, mas não te sacrificam a dignidade e a virtude.

Um sorriso amargo pairou nos lábios de Ricardo:

— Por isso, como todos os reis, tu repeles quase sempre essas almas de rija têmpera, que não se dobram a teus caprichos. Preferes os lisonjeiros, os corações de cortiça, as almas de esponja, que à vontade se embebem ou se encharcam daquilo que te apraz ou te repugna.

A sombra de algum pensamento mais desanimador perpassou-lhe na fronte, e derramou-lhe pelo semblante uma expressão de melancolia. As pálpebras cerraram-se como se a luz do sol ofendesse a penumbra d'alma em que dormiam as mágoas íntimas e as queridas reminiscências:

— Minha felicidade, a felicidade de uma família inteira, depende de ti, de um teu bafejo!...