Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/123

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disse Ricardo, já não podendo conter o sarcasmo.

— Ande lá, ande lá! Isto agora é uma letrinha dum rapaz, um peralta que já esbanjou a legítima do pai, e está à espera da herança da mãe. É preciso pôr-lhe em cima o ano do nascimento e andar com a tramoia depressa para arranjar uma sentençazinha, que fique na gaveta bem guardada à espera do bolo. Enquanto o marreco anda na pinga, não olha para estas cousas, nem dá o cavaco, sobretudo caindo eu com uns cobres, que ele anda seco. Mas assim que meter-se na herança, é capaz de vir com histórias de que são falsas as letras, que ele as aceitou quando já estava declarado pródigo, e outras petas.

— Desculpe-me, sr. visconde, não posso encarregar-me destes negócios, disse Ricardo com fria gravidade, carregando sobre a última palavra.

— Por que então?

— Permita-me que reserve para mim os motivos de meu procedimento, tornou Ricardo no mesmo tom.

— Ora já sei! É sobre isso mesmo que eu