Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/261

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— Conte-me, disse Guida com bondade.

— Não vale a pena. Uma afeição de infância, que lutou anos contra a adversidade para ser traída e ludibriada no momento em que lhe sorria a esperança! Quem dá valor a estas futilidades do coração? concluiu o mancebo em tom amargo.

— Compreendo quanto deve doer a perda de uma ilusão, observou a moça.

— Não é a perda de uma ilusão, mas a ruína de minha vida inteira. O coração está morto; é uma terra sáfara onde não brotará nunca mais a flor de uma afeição. E é esta a maior felicidade que Deus me pode conceder ainda neste mundo!

Volveu Guida um olhar tímido e queixoso.

— Por quê?

— Amar outra vez? Seria martírio incessante. Não me animaria jamais a oferecer àquela a quem eu amasse os destroços de uma vida despedaçada pela traição, os sobejos de uma alma devorada pela dúvida. Oh! não! Se isso acontecesse por minha desgraça, eu havia de adorá-la em silêncio, no mais recôndito de minha consciência,