Página:Suspiros poéticos e saudades (1865).djvu/118

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É possível, meu Deus, que tanto sofra
Um mísero mortal, e qu'inda viva?
Queres ver do teu servo
A alma, de padecer já calejada,
Sem murmurar, sem blasfemar té onde
A paciência leve?
Em mim acaso novo Job preparas?
Ou o meu coração não é de humano,
Ou a dor já o tem empedernido
Co'o reiterado embate.

Oh meu Senhor, pequeno é o meu peito,
Para conter um coração repleto
De tantas aflições, de angústias tantas.
Tira-me a própria vida,
Tira-me o sentimento,
Ou com tríplice lâmina de ferro
Forra meu peito, e meus ouvidos cobre.

Oh dever de homem probo!
Hei de eu como uma incude duros golpes
Suportar insensível, sem queixar-me
De quem martírios tais sem dó me causa?