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ARTIGO EXTRAIDO DA REVISTA BRASILIENSE

esphera dos nossos habitos, principios, e costumes, e nem o segredo podia adivinhar dos nossos sentimentos. Preciso era que de industria nos transformassemos em Gregos ou Romanos, despindo-nos de tudo o que constitue a individualidade do homem de hoje, por que nos enternecessemos pelo pantheismo phenomenal da Grecia e de Roma, e pelos sentimentos estrangeiros dessas illustres mortas. Mas ainda assim, o peso, das nossas crenças precipitava todas as sombras evocadas do polytheismo; ellas dissipavam-se ao primeiro movimento dos nossos sentimentos reaes, como ao primeiro albor da aurora fogem os phantasmas que as trevas simulam. Como tudo o que é grande, bello, e verdadeiro, foi pleno o succeso da reacção contra a imitação da poesia antiga. O Christianismo, banindo do Universo as elegantes divindades, de que o povoára a mythologia, restabelecêo a majestade, a grandeza, e a gravidade da criação, e nova carreira abrio á poesia, que té então não podia encarar a natureza senão a través das ficções consagradas por Hesiodo, e por Homero. Nestas novas fontes bebe hoje suas mais brilhantes inspirações não só a poesia, como as artes, e a philosophia, irmã da theologia.

Entretanto que este movimento remoçava com uma vida toda nova, e mais florente que a primeira, a litteratura europea, os poetas da nossa lingua iam