Página:Suspiros poéticos e saudades (1865).djvu/302

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Tu matas, oh saudade!... Às crespas ondas,
Delirante Moema,[1] e quase insana,
Por ti ferida, se arremessa... e morre...
Que não pode a mesquinha
Longe viver do fugitivo amante,
Que tanto amor pagara com desprezo.
Lindóia,[2] entregue à dor, desesperada
N'ausência de Cacambo, mal lhe soa
Do caro esposo o último suspiro,
Também suspira, odeia a vida... e morre...
E tu, Clara infeliz,[3] filha dos bosques,
Gerada entre palmeiras,
Nada pode aprazer-te, nada pode
Extinguir-te a lembrança
Da rústica cabana, onde embalada
Em berço foste de tecidas varas.
De diurnas, domésticas fadigas
Descansada, lá quando alveja a lua
Em fundo azul, mil vezes te enxergaram

  1. Veja-se o Episodio de Moêma, canto VI, p. 172, do poema Caramurù de S. Rita Durão.
  2. Episodio do Uruguay, poema de José Basilio da Gama, canto III.
  3. Este caso é original.