Página:Suspiros poéticos e saudades (1865).djvu/41

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Eu sou órgão de um Deus; um Deus me inspira;
Seu intérprete sou; oh terra! ouvi-me.

Outras vezes, nas selvas meditando,
Sobre um tronco sentado, junto a um rio,
Que embalança da lua a argêntea cópia;
Como entre as folhas sussurrante vento
Gemer parece, e de algum mal carpir-se,
Tu gemes, e co'o verme te comparas,
Que arrasta pelo chão a inútil vida;
E vês nas águas, que a teus pés deslizam,
A imagem de teus dias fugitivos.

Fogem os dias como as águas fogem;
Mas da lua o clarão, que a água reflete,
Sem do lugar fugir, brilhando fica;
Tal sobre a terra, onde escoara a vida,
Resta do Vate a rutilante glória!

Quando ouve o sabiá troar nas várzeas
Do fero caçador a mortal arma,
Sufoca o sabiá seu canto, e foge:
Assim tu emudeces, quando estruge