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II
REFORMAS RADICAES

Havia bem dez dias que o major Quaresma não sahia de casa. Na sua meiga e sooegada casa de S. Christovão, enchia os dias da fórma mais util e agradavel ás necessidades do seu espirito e do seu temperamento. De manhã, depois da toilette, e do café, sentava-se no divan da sala principal e lia os jornaes. Lia diversos, porque sempre esperava encontrar num ou noutro uma noticia curiosa, a suggestão de uma idéa util á sua cara patria. Os seus hábitos burôcraticois faziam-no almoçar cedo; e, embora estivesse de férias, para os não perder, continuava a tornar a primeira refeição de garfo ás nove e meia da manhã.

Acabado o almoço, dava umas voltas pela chacara, chacara em que predominavam as fruteiras nacionaes, recebendo a pitanga e o camboim os mais cuidadosos tratamentos aconselhados pela pomologia, como se fossem bem cerejas ou figos.

O passeio era demorado e philosophico. Conversando com o preto Anastacio, que o servia ha trinta annos, sobre cousas antigas — o casamento das princezas, a quebra do Souto e outras — o Major continuava com o pensamento preso aos problemas que o preoccupavam ultimamente. Após uma hora ou menos, voltava á bibliotheca e mergulhava nas revistas do Instituto Historico, no Fernão Cardim, nas cartas de Nobrega, nos annaes da Bibliotheca, no von den Stein e tomava notas sobre notas, guardando-as numa pequena pasta ao lado. Estudava os indios. Não fica bem dizer estudava, porque já o fizera ha tempos, não só no tocante á lingua, que já quasi falava, como tambem nos simples aspectos ethnographicos e anthropologioos. Recordava (é melhor dizer assim), affirmava certas noções dos seus estudos anteriores, visto estar organi-