doutor. Meus filhos mesmo e todos quase não querem saber de livros. Tirante este defeito, doutor, a gente quer mesmo o progresso.
Barrado implicou com o “tirante” e o “a gente”, e tentou ironizar. Sorriu e observou:
— Fala-se mal, estou vendo.
O matuto percebeu que o doutor se referia a ele. Indagou mansamente:
— Por que o doutor diz isso?
— Por nada, professor. Por nada!
— Creio, aduziu o sertanejo, que, tirante eu, o doutor aqui não falou com mais ninguém.
Barrado notou ainda o “tirante” e olhou com inteligência para Tucolas, que se distraía com um naco de tartaruga.
Observou o caipira, momentaneamente, o afã de comer do antropologista e disse, meigamente:
— Aqui, a gente come muito isso. Tirante a caça e a pesca, nós raramente temos carne fresca.
A insistência do professor sertanejo irritava sobremaneira o doutor inigualável. Sempre aquele “tirante”, sempre o tal “a gente, a gente, a gente” — um falar de preto mina! O professor, porém, continuou a informar calmamente:
— A gente aqui planta pouco, mesmo não vale a pena. Felizardo do Catolé plantou uns leirões de horta, há anos, e quando veio o calor e a enchente...
— É demais! É demais! exclamou Barrado.
Docemente, o pedagogo indagou:
— Por quê? Por quê, doutor?
Estava o doutor sinistramente raivoso e explicou-se a custo:
— Então, não sabe? Não sabe?
— Não, doutor. Eu não sei, fez o professor, com segurança e mansuetude.
Tucolas tinha parado de saborear a tartaruga, a fim de atinar com a origem da disputa.
— Não sabe, então, rematou Barrado, não sabe que até agora o senhor não tem feito outra coisa senão errar em português?