— Mamede disse-me que está na pista do cocheiro.
— Que cocheiro?
— Do carro em que ela fugiu.
— Foi de carro!?
— Naturalmente.
Calaram-se. O bonde fez uma parada perto da Rua do Núncio. para a Muda.
— E se prendessem o cocheiro? Ele deve saber onde ela está.
— Mamede vai ver.
Depois dum longo tempo de recolhimento, levada aos trancos pelo bonde, Dona Júlia levantou os olhos e, na sacada duma casa, viu duas mulheres de penteadores brancos: uma sentada, a ler, deixando à mostra um pedaço de perna gorda, a outra muito debruçada, com os cabelos soltos, esvoaçando.
— Que rua é esta?
— Lavradio.
A velha acenou com a cabeça e, como se lhe bastasse a informação, aquietou-se.
— Aqui é a Polícia. Foi aqui que eu estive, disse Paulo.
D. Júlia inclinou a cabeça e foram-se-lhe os olhos por um largo portão, ao longo dum túnel sombrio.
— Ah! meu Deus, se essa gente quisesse!...
Quando chegaram ao Largo da Lapa a timidez retomou-a. Ergueu-se pesadamente e, agarrando-se aos balaústres, foi descendo com esforço.