tão velha na morte! sorrindo e sumindo-se vagarosamente como se, além mesmo, no espaço, lhe fosse penoso andar.
Uma recordação, porém, assombrou-a: a morte dum velho negro. antigo escravo da família. Viu-o esgrouviado, agonizando, contorcendo-se, a boca escancelada, os olhos em alvo, numa aflição inconcebível. grugulhando, com o peito nu, ripado pelas costelas salientes, o ventre cavado, a pedir ar, ar, ar...! Levantou-se da cama descalça, a tremer e medrosa, como se sentisse duendes pela casa, passou à sala de jantar e, no escuro, pôs-se a bater na mesa com a mão espalmada, chamando:
— Felícia! Felícia!
A negra, em fraldas de camisa, apareceu sobressaltada:
— Que é, minh'ama?
As duas mulheres encontraram-se na sala escura.
— Ah! Felícia, para que havia você de falar dessas coisas agora... Não posso dormir.
— Minh'ama está com medo?
Dona Júlia respondeu com um fundo suspiro recolhendo-se ao leito.
— Agora tem paciência: vem ficar comigo.
— Eu vou buscar a minha cama. - E tornou à sala voltando, pouco depois, com uma esteira enrolada; estendeu-a e, forrando-a com um cobertor cinzento, sentou-se. O seu busto negro, magro, destacava-se da camisa branca, que lhe escorria pelo peito linguajado pelas mamas pelancudas.