o "Monstro" do Bruno, pior que o touro brônzeo de Fálaris, porque do seu bojo saíam, não os gemidos de uma só vítima, mas o clamor de toda a humanidade, a resenha da vida universal, cuja percentagem de angústias sobreleva-se avassaladoramente à parte mínima de prazer. E, olhando, parecia-lhe ouvir o arquejo doloroso do mundo, a zoada ansiosa do enxame humano atroando, subindo daquelas finas lâminas flexíveis, como a voz cativa irrompe quando a despertam nos tubos sensíveis do fonógrafo. Desceu.
No corredor, encostado à parede, com as pernas estiradas, um homem dormia, a cabeça pendida sobre um dos ombros, os pés nus, imundos, o peito da camisa aberto, uma bolsa a tiracolo. A porta, em torno dum negro que vendia café, às canecas, um grupo chalrava alegremente, na treva.
Paulo subiu a Rua do Ouvidor obscura e calada.
Um vento frio soprava. O céu negro, sem estrelas, ameaçava aguaceiro e, como chovera copiosamente à tarde, com ventania e trovões, poças d'água refletiam a luz dos combustores. Um cão magro percorria a sarjeta farejando.
Na esquina da Rua dos Ourives estacionava a patrulha. Os soldados, emblocados nos capotes, fumavam pachorrentamente, e os cavalos muito juntos, a cabeça baixa, pareciam dormir