Só o Junqueira sabia conduzir a palestra para as largas regiões da inteligência, e quando aparecia o Aurélio Mendes, autor do Incréu, romance macabro, vivido em eras obscuras, com alquimistas e bruxas, que era uma critica sutil aos costumes contemporâneos, então apontavam idéias, ressoavam frases, rebrilhavam imagens, explodiam paradoxos. Mas Aurélio andava adoentado e raramente subia à roleta, passando os dias no Laemmert, a folhear brochuras ou na Biblioteca, pesquisando, escavando assuntos para novelas e poemas.
Foi jantar ao Globo. Comia tranqüilamente, olhando as gravuras de uma revista inglesa, quando descobriu, em uma mesa fronteira, dois rapazes que trocavam segredos, olhando-o. Sentiu todo o sangue afluir-lhe ao rosto e, nervoso, carrancudo, chamou o criado e pediu uma garrafa d'água mineral.
Os rapazes continuavam a sorrir e Paulo, a mais e mais perturbado, acompanhava-lhes os movimentos, mirando-os de soslaio. Uma gargalhada estourou, ele recebeu-a em cheio, como uma afronta; o próprio criado, correndo com a garrafa de Seltz, a perguntar-lhe se queria gelo, tinha nos lábios um sorriso escarninho.
Era dele que tratavam e aquela zombaria ligava-se, com certeza, à fuga da irmã. Algum daqueles tipos conhecia-a, era, talvez, o seu amante, e ria-se, narrando, sem dúvida, ao companheiro, fatos