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Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/62

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afugentando as moscas que esvoaçavam em torno dos pães louros, lentejoulados d'açúcar cristalizado e os engraxates, de joelhos junto das caixas, que batiam, chamavam os transeuntes. Bondes faziam a curva, outros seguiam cheios e os de São Cristóvão cruzavam-se, apinhados, com gente nos estribos.

Os carros, em fila, estendiam-se ao longo do terreno vago e em torno de um quiosque cocheiros discutiam em algazarra; outros, atracados, mediam forças ou gingavam em meneios capoeirosos, enquanto um pequeno, junto a um dos carros, estalava um chicote, rindo-se quando a água de uma poça espirrava para os lados, lamacenta e negra.

Os montes, muito azuis, tinham uma nova alegria. A Tijuca, desanuviada, cravava o seu cimo no céu; e o parque em frente, denso e verde, parecia de um arvoredo tenro: lisa era toda a folhagem, como nascida naquela manhã; a grama verdejava viçosa, como se por ali houvesse andado a primavera mondando as plantas, recolhendo versas e ramalho para mostrar, em todo o esplendor da beleza, a sua residência mais amada.

Ia atravessando a rua quando uma matula de garotos arremangados, descalços, brandindo paus, aos berros, abalou da estação, a correr em direção ao quartel, donde partiam, vibrando na serenidade da manhã luminosa, clangores fortes de metais.