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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/107

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para que esperassem por eles – e por vezes todos se afastavam de algum cavaleiro, que, embuçado no manto, a pluma do chapéu ao vento, se escapava ao galope de um ginete magro. Um fumo, como de fogueiras, subia por trás das muralhas; as ameias não tinham sentinelas; e todo o ar estava cheio do dobrar de finados, badalado nas torres.

A turba que fugia, vendo Cristóvão, corria mais espantada, tropeçando, caindo sob o peso dos fardos; ele estendia os braços para amparar os velhos; o terror crescia: - e em torno de suas pernas, como em volta de torres, a multidão debandava gritando.

Chegou por fim à entrada da cidade. Dois soldados atônitos fecharam as portas. Cristóvão galgou o fosso, transpôs as muralhas. Diante dele abria-se uma rua, com trapos caídos nos enxurros, e todas as portas fechadas sob as tabuletas, que rangiam na haste de ferro ao vento agreste. Um fétido terrível tornava o ar pesado: e dois frades, erguendo o hábito, fugiam de um homem que se espojava no chão, com a face toda verde, a boca escancarada, gritando por água! Cristóvão correu para ele, ergueu-o nos braços, levou-o a um chafariz, onde a água jorrava de carrancas. O homem bebeu a largos tragos – as suas pernas inteiriçavam-se, e ficou nos joelhos de Cristóvão morto, já quase decomposto. Mas, de uma casa