Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/109

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O homem recuara inquieto, perguntando por seu turno se ele viera com saltimbancos para se mostrar. Cristóvão disse que não, e com um gesto mostrou o horizonte distante de onde vinha. Então o homem aconselhou-lhe que fugisse, porque a cidade morria da peste negra.

Quando assim falavam, um ruído de correntes arrastadas ressoou no lajedo. E dois homens, com cadeias de ferro presas aos pés, apareceram, trazendo um morto numa padiola. Atrás outros homens, de faces sinistras, com correntes aos pés, traziam outros mortos... Eram os forçados das galés, que iam enterrar os mortos, guardados por soldados, que faziam estalar no ar compridos látegos de couro. Então Cristóvão tomou aos ombros os dois mortos que jaziam junto à fonte, e começou a seguir os forçados. Assim saíram das portas, até chegar a um olival, onde estava plantada uma cruz. Uma vala irregular e tortuosa atravessava sob a ramaria pálida. À pressa, os forçados atiraram os mortos para dentro, e com as enxadas lançaram sobre eles uma ligeira camada de terra. Ao ruído, bandos de corvos, que pousavam nas oliveiras, bateram o vôo, grasnando furiosamente.

Cristóvão sacudiu as mãos da terra, e sem atender aos brados dos soldados que o chamavam, recolheu à cidade, ao acaso, por outra