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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/115

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o povo emplumado: “Eh Cristóvão!” E como ele movia um passo, sorrindo, com a face erguida para o balcão, de onde pendia um veludo franjado de ouro – dois soldados meteram-lhe bruscamente entre as pernas uma trave, e Cristóvão tombou no lajedo. Logo, de todas as portas, romperam homens inumeráveis, que cobriram o imenso corpo deitado, como as formigas cobrem um tronco. Num momento foi amarrado com grossas correntes e ferro: e para que nenhum grito dele saísse, uma mordaça tapou-lhe a boca. Depois todos, recuando vivamente, contemplaram em silêncio o gigante vencido. O príncipe desceu para ver, com damas, cujas caudas eram como longas tiras de tapete sobre o pátio. E os pajens cuspiam sobre a sua face barbuda. Ele pensava no Senhor que fora flagelado – e mais nos pobres que ele servia, e que decerto nesse dia sentiriam a sua falta. Todo o dia ficou assim cercado de lacaios, de cozinheiros, que deixavam o serviço para o vir ver. E no coração de alguns havia compaixão.

A noite desceu, escura, sem uma estrela. Então Cristóvão abriu os olhos. Os cães de fila, soltos, rondavam o pátio. A sentinela dormia, à porta, encostada à lança: e das altas ogivas do palácio vinha um clarão, e um rumor de violinos. Então Cristóvão retesou os músculos – e com grande ruído todas as correntes