Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/160

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aos trovadores de passavam esmolando, ou aos peregrinos que tinham visto as maravilhas da Terra Santa. Direito, a mãozinha assente na cinta, o olhar rebrilhante, estava diante de Cristóvão – que sorria, com a vasta face barbuda toda pendida e enternecida para ele. Então, erguendo o dedo para o alto, onde estava o ombro de Cristóvão, disse muito sério:

— Quero subir lá cima.

O seu aio ergueu-o nos braços, mas não chegava àquela altura. As damas riam; os cavaleiros também, metendo os dedos entre os fios das barbas. Então Cristóvão agarrou delicadamente na criança, e pousou-a no seu grande ombro. Lá no alto, a criança sorria, vendo todos embaixo, tão pequenos, junto dos joelhos do gigante. Espicaçou o ombro de Cristóvão, gritou: “Caminha!” E Cristóvão marchou, através da sala. Para passar, a criança afastava as bandeiras que pendiam. Os seus olhos, cheios de orgulho, reluziam como estrelas, mas a mãe inquieta erguia as mãos, chamava: “Ruperto! Ruperto!” – E o aio, todo erguido na ponta dos pés, estendia os braços para as alturas de Cristóvão, para receber Ruperto que se atirara de lá, rindo e sem medo.

Então a dama velha deu suas ordens ao senescal. Cristóvão foi levado às cozinhas – onde os pajens, os criados, correram para ver Cristóvão,