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menino rasgavam o couro do seu tabardo. Nos dias em que chovia e o menino não saía do castelo, todo o dia Cristóvão rondava tristemente pelos pátios, com a melancolia da sua ociosidade: e de noite não recolhia à sua estrebaria, com os olhos na janela onde luzia a luz que alumiava o menino.

Por vezes, porém, o menino queria que Cristóvão viesse assistir ao seu jantar: - e então dois pajens abriam mais largos os grandes reposteiros de tapeçaria para que Cristóvão penetrasse na vasta sala, onde o teto era pintado de azul, e salpicado de flores que brilhavam como recortadas em ouro. Imóvel a um canto, ele contemplava o menino, que se sentava ao lado da avó, numa cadeira de alto espaldar como a dela. Por trás, o seu aio tomava os pratos da mão do escudeiro. Sobre a mesa, coberta de linho fino, retiniam os copos de prata. Os bufetes vergavam ao peso das baixelas. Uma grande fogueira bailava na chaminé, onde estava representado o cerco de Antioquia: - e sobre os poleiros de ferro polido, os falcões afiavam o bico.

Mas, por vezes, o menino queria Cristóvão mais perto. Então a mãe, resignada, fazia um gesto seco: - e Cristóvão, muito humilde, assustado dos esplendores senhoriais, vinha, vergando os ombros, com o seu barrete na mão. O menino queria-o de joelhos, com as