Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/173

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aos ruídos daquela dor. Para ao menos estar misturado às coisas do menino, era ele quem limpava o seu potro favorito: mesmo por vezes lhe beijava o focinho; e a sela em que o menino montava, as rédeas cobertas de veludo, os seus estribos de prata, eram como coisas sagradas, em que tocava com devoção.

Por esse tempo, uma manhã, houve um grande rumor no castelo. O menino estava doente. Bem depressa dois pajens partiram galopando – e não tardou a chegar, montado na sua mula, o Físico, com a sua caixa de drogas. Foram então dias de inquietação. A capela estava todo o dia acesa, e as aias rezando. De um convento vizinho vieram as relíquias de S. Teódulo. Os pajens, sem jogar, sem lutar, cochichavam com medo pelos cantos: - e outros iam procurar pelos caminhos peregrinos, ou mercadores ambulantes, que trouxessem de longe alguma receita nova e ignorada. Cristóvão não dormia. Toda a noite, os seus olhos estavam cravados na janela dos aposentos do menino. Interrogava, tremendo, as camareiras. Ia pelos casais de colmo, dos servos, perguntando por ervas. Foi muito longe consultar um pastor feiticeiro. E para que nenhum rumor inquietasse o menino, ia de noite, com uma grande vara, bater a água dos fossos, para fazer calar as rãs.

Um dia, porém, o menino apareceu no terraço do castelo,