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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/226

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da estrada excitava, arrepelavam-lhe os cabelos. Ele, quieto e humilde, fendia as águas. Por vezes era um cavaleiro que, com a sua pesada armadura, lhe esmagava os ombros, e rindo o espicaçava com os acicates. Outras vezes era uma dama que se horrorizava com a fealdade de Cristóvão, tapava a face, e apenas passada para a outra margem lhe fugia das mãos, mostrando o seu nojo. O maior trabalho era com os animais. Havia rebanhos que levavam todo um dia a passar. Os ginetes de guerra, furiosos, mordiam-lhe os braços. E os galgos, latindo, queriam saltar para o rio, entre a indignação dos fidalgos, que atiravam pedras a Cristóvão. Nenhum esforço custava ao bom gigante. Passava os fardos mais duros, grossas barricas de vinho. pedras enormes para a construção das abadias. Passou touros, que iam para um curro de fidalgos. E passou um bando de leprosos, que fugiam de uma cidade, e lhe deixavam sobre a pele o pus das duas fístulas.

Se lhe não pagavam, baixava a cabeça, saudando com humildade. Se lhe pagavam, beijava a escassa moeda de cobre: - e guardava debaixo de uma pedra esse dinheiro, para o repartir com os mendigos.

Assim vivia desde longos anos. A sua cabeça já se vergava, os seus braços já não eram tão fortes. Por vezes, sob os grandes fardos,