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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/230

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bebia a espuma turva e amarga. Grossas traves que a corrente acarretava, batiam-lhe o corpo. Os seus pés rasgavam-se em pedras agudas. E ele, num esforço enorme, os braços esticados ao alto e todo a tremer, sustentando o menino, arrojava o peito para a frente, com gemidos que eram mais fortes que o vento. Duas vezes os seus joelhos fraquejaram, ia cair sob a força da torrente; duas vezes, com esforço sobre-humano, se manteve firme, erguendo ao alto o menino. A água já lhe chegava pela barba, e a espuma das vagas umedecia-lhe os olhos. E, sempre arquejando, rompia, com as mãos a tremer todas do peso imenso do menino. Mas os seus pés encontraram uma rocha firme, e a água desceu outra vez até ao peito. Na rocha resvaladiça, porém, os seus passos mal se podiam sustentar. E era por um esforço da alma, que se empinava arquejando. Mas ia saindo do rio. A água já lhe descera à cintura. E o fragor da corrente parecia abrandado e como remoto. Grandes pedras emergiam da água. Já apenas tinha mergulhado os pés, que ele sentia dilacerados. Um esforço mais, e estava na margem, salvo, apertando contra o peito o menino.

Mas, naquele esforço supremo toda sua vida se fora. Não podia mais. E já se sentava, exausto, numa rocha, quando o menino lhe murmurou que não parasse, que marchasse