escuros. Começou a correr por uma estreita azinhaga até aos castanheiros que abrigavam a sua cabana. Uma fenda de luz saía da porta, entreaberta à frescura doce da noite. O rafeiro que o aguardava, com sua coleira eriçada de pregos, latiu alegremente. Entrou, limpando na face o suor que o alagava.
Sentada à lareira numa tripeça, a sua boa companheira esperava fiando. A panela de ferro fervia, suspensa por uma corrente sobre o lume. A um canto da arca, as malgas vidradas, as canecas de estanho reluziam bem limpas; sobre a palhoça do catre, o lençol de estopa era branco e fresco. Todo o dia a boa companheira lidara para o asseio do seu lar. O lenhador pendurou junto à chaminé o seu machado, e, nem à ceia, nem deitado junto dela no catre, revelou à mulher o encontro com aquele moço de olhos resplandecentes. Receava que ela, tão séria e justa, repreendesse o seu orgulho. Por que mandaria Deus um anjo, com tão maravilhoso recado, a um rude servo, de saião de estamenha? Decerto não fora a ele que o moço, brilhante de claridade, anunciava a santidade de um filho.... Se Deus os tivesse escolhido para tão grande ventura, não seria por ele, rude como os troncos da sua mata, mas pela sua boa companheira, tão séria, diligente no trabalho, clara de alma, compassiva aos mais pobres, sempre alegre e tão leal! Nela e não nele, estavam decerto os méritos divinos.