Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/271

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um medonho basilisco, serpente cor de brasa, que tem dois cornos – e o fumo formava longos fantasmas cinzentos, que se enrodilhavam no pescoço do Solitário, e o esganavam.

Certo então da sua destruição próxima, pois que toda a Natureza arrojava contra ele os seus monstros, desde os mais pesados aos mais subtis, Onofre aceitou com submissão o destino que lhe marcava o Senhor: – e, uma noite, ajoelhou diante da caverna, cruzou firmemente os braços, e não se moveu, esperando, quase apetecendo, o remate dos longos tormentos. Imediatamente, uma avantesma monstruosa e estranha apareceu, e, sem um rumor, sem que um dos vastos membros se movesse, ficou diante dele na rigidez e a inércia pesada de um monte. Todo o seu vasto corpo se perdia na sombra, para além da esplanada – e Onofre apenas lhe avistava o gordo e enorme focinho, alongado em tromba, e dois olhinhos, meio cerrados, perdidos na gordura, de uma imensa, intolerável estupidez e tristeza. Era essa certamente a alimária suprema que o vinha devorar: – e tapou a face, com as mãos trémulas e frias, murmurando a oração derradeira.

Quando de novo olhou, o monstro lá permanecia, imóvel e mudo. Um pêlo ralo, e nojento, cobria todo o imenso focinho, onde reluzia, como supurado da sua gordura, um