E como Onofre recuava, escandalizado, o outro, retendo-o pela manga, rompeu em palavras estranhas e magníficas. Se Jesus era filho de Deus, porque se chamara a si mesmo filho do Homem? Tudo nega, em cada uma das suas acções, e das suas palavras, a sua essência divina. Se ele era Deus, para que necessitava o Baptismo? Como poderia o Demónio tentar, pela oferta de um reino na Terra, aquele que ele sabia possuir, como Deus, os remos da Terra e do Céu? Quando a Madalena lhe tocou a túnica, ele exclamou: «Quem me tocou?» Logo não sabia: onde estava então a sua omnisciência de Deus? Em Emaús, depois da ressurreição, Ele pede aos discípulos que lhe apalpem as chagas. Logo, mesmo depois de ressurrecto, era um corpo material, susceptível de verter ainda sangue
Onofre dilatava os olhos, estupidamente. E então o homem, apontando com o báculo para o lado do Deserto, onde o Sol desaparecia, tornou:
– O meu caminho é para além... Mas a tua alma é digna de receber a Verdade. Outros virão que t’a ensinarão.
E outros vieram – uns solitariamente e em silêncio, surgindo de entre as rochas, que ressoavam sob os seus bastões ferrados, outros, em bando, através dos areais, como mestres marchando entre os seus discípulos. Era de noite e sob a Lua cheia. E por vezes o eirado, diante