onde ia orar, erguia os braços para o Céu mudo, gritava: «Socorro, meu Senhor, socorro!»
Mas como o socorro não descia do Céu, cada manhã ele recomeçava desesperadamente, pela cidade, as suas súplicas lamentáveis, com uma velha panela atada ao pescoço por duas cordas, as mãos sempre estendidas. Assim estacionava nas praças, ou onde os canais se cruzavam, gritando: «Pão para os pobres! Pão para os pobres!»
Era então a estação das grandes chuvas: –e aquele velho, imóvel sob as grossas cordas de água, com os cabelos brancos empastados nas covas da face, e puxando a pobre túnica colada aos ossos que lhe tremiam, causava piedade: as esmolas caíam ressoando na panela de barro. Por isso Onofre temia os céus alegres e o ar doce, que aligeirando as almas, as desviam da compaixão...
Por vezes, passavam longos dias sem que tivesse alcançado esmola, ou um trabalho, por mais vil, que lhe desse um salário. E então ia pelos caminhos, chorando no silêncio da noite. Chorava pelas fomes que não podia fartar, por todos os males que não podia sarar. A sua miséria própria, a sua nudez, a sua fome, eram as únicas consolações – porque ao menos o tornavam igual, pela miséria, àqueles que amava. Esse amor infinito e insondável, era tudo o que podia dar aos pobres, seus irmãos. Mas ele saía