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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/419

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dos campos, vestiria os trapos mais sujos, serviria nos misteres mais rudes – contanto que a alma se fosse enchendo desse grande saber, cada vez mais alto, mais belo, dominando todas as almas pela abundância de verdade que possuísse, e pela eficácia do bem que espalhasse. Mas esta ambição, como a realizar? Onde, como, adquirir esse saber benéfico? E quando o tivesse adquirido, de que modo fazer que ele aproveitasse aos homens, para se tornarem melhores, e serem aliviados dos males da vida?

Seria um grande físico, que fosse pelo mundo curar os males da carne? Seria um grande Teólogo derramando a paz nas almas? E mesmo que melhorasse algumas almas, ou sarasse alguns corpos, quantos ainda por todo o vasto mundo ficariam sem remissão e bem-estar? Qual era o meio de fazer o bem, simultaneamente, a grandes multidões?

Assim pensava D. Gil na solidão dos vales. Este moço tão gentil tinha então vinte e dois anos – e era tão belo e airoso, que a gente se voltava nos caminhos, e o ficava a olhar, com doçura.

Os seus longos cabelos, de um louro escuro, caíam em anéis como os de um arcanjo. Nada havia mais doce e luminoso que o olhar dos seus olhos escuros. Um buço, apenas nascente, dava uma sombra de virilidade à sua pele ebúrnea, como a de uma virgem: – e no seu andar