Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/424

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Os seus olhos fulguravam como duas chamas – e do cajado que ele assentara, rindo, sobre uma pedra, chisparam longas faíscas. E continuou:

– Só me falta um companheiro. Moço sois, forte pareceis; em França as mulheres são lindas; nas grandes escolas aprende-se o segredo das coisas; e as guerras não faltam a quem apetece a glória. Vinde também comigo, e seremos dois a cantar.

Gil respondeu gravemente, mostrando Gonfalim e o paço acastelado:

– Acolá fica a casa de meu pai.

Então o moço tirou o seu gorro:

– Rico sois! Ajudai um pobre estudante.

Gil abriu a escarcela, e, corando, tirou uma moeda de prata que pôs na mão do estudante. E, sem saber porquê, sentia uma atracção para ele, como um desejo estranho de se juntar àquele destino errante. Mas o moço, atirando o cajado para as costas, dando um jeito à sacola, partiu. E de novo cantava:

Dia e noite caminho,
Para onde irei?
E o saber que procuro,
Onde encontrarei?

A meio da encosta ainda se voltou, acenou com a mão a Gil – e subitamente desapareceu. No chão, em que os seus pés se tinham pousado, a erva secara toda.