Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/429

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longamente esteve fechado nos braços da mãe. Todos os sinos então repicaram. Os solarengos, erguendo os sombreiros, bradaram: «Boa ida, boa volta!» E, com os olhos vermelhos, mais pálido que uma cera, o Senhor D. Gil, a galope, transpôs a levadiça do solar.

Amparados um ao outro, os dois velhos subiram à torre de atalaia. E quando viram as duas mulas desaparecer, ao fundo da azinhaga, caíram de joelhos nas lajes duras, tremendo, chorando, murmurando o padre-nosso.

À entrada da ponte, um velho de cabelos brancos, sobre a sua garnacha negra, deteve D. Gil que trotava, soluçando. Era Mestre Porcalho, que lhe vinha dizer o adeus da partida. O fidalgo e o velho físico longamente se abraçaram.

– Lede Galeno – murmurava o prático entre lágrimas mal reprimidas.

E quando Gil de novo trotava sobre as lajes sonoras da velha ponte romana, ainda o físico lhe bradou, com a mão descarnada no ar:

– Lede-me sempre Aristóteles!