– Ai Portugal, Portugal!
Uma manhã tinham penetrado entre grandes serranias de rocha, seguindo o leito seco de uma torrente. Tão grande era a solidão e o silêncio, que D. Gil sentia como o terror de uma treva, e como se estivesse para sempre separado do mundo e das coisas vivas. O Sol, no alto, faiscava furiosamente através de um ar tão espesso que se lhe via a vibração, o tremor luzidio, como de um pó de vidro suspenso. As patas das mulas estremeciam a cada passada, tocando a ardência das pedras e do chão: – e dos altos muros de rocha, aos dois lados, vinha um calor áspero, seco, como se fossem os muros de tijolo de umas termas acesas. D. Gil arquejava, procurando uma cova, uma fenda de rocha, onde achassem sombra e refúgio: mas as duas encostas só ofereciam, nos seus dorsos redondos, como de grandes fornos, estendais secos e lisos de pedregulho miúdo, que faiscava.
– E serem isto terras de el-rei de Leão! –murmurava Pêro Malho, com tédio.
Então D. Gil, para depressa fugir daquele vale ardente, de mortal secura, picou com furor os ilhais da mula.
Naquele sinistro silêncio da terra morta, sob o faiscar inclemente do Sol, muito tempo galoparam, saltando por duas vezes sobre grandes ossadas de cavalos, que, ainda inteiras, branquejavam entre as pedras. Quando estacaram,